segunda-feira, 30 de abril de 2012

Alma, Corpo e Chuva...

Ela correu pela chuva e sentiu a água gelada pelo corpo. Tentou sentir culpa, ou tristeza, ou raiva. Só sentiu liberdade. E foi tão bom que quase, QUASE, perde o ônibus. Era tão engraçado... Dias chuvosos não tinham o menor efeito negativo sobre ela. Talvez uma leve nostalgia, uma vontade gostosa de estar em casa, de baixo de um edredom, com filme e pipoca. Dias frios traziam aquela paz estranha e boa. Pensou nisso enquanto conversava com uma amiga que a muito não via, quando abriu seu livro. A semana anterior havia sido muito 'feliz'... Muito leve. Não via motivos para deixar o começo da outra pesada.

Sentiu na pele o que era ser 'outra pessoa' e por hoje só queria ser uma pessoa: Ela mesma... Sem julgamentos e culpas. Fugindo do que lhe parecia pesado. Ainda precisando da pele na pele, do carinho, da facilidade da conversa. Do amor. Mas sem pressa nenhuma para esperar quanto fosse preciso. Sabendo muito bem o que queria, tentou sentir todos os cheiros amigos, todos os toques reconhecidos, todas as cores bem-vindas. E descobriu que pode ser fácil ser feliz. Não tinha apenas que sorrir. Tinha que se sentir sorrindo. Aquele sorriso de dentro. De alma..

Foi espirito e alma, mas só depois que saiu do papel descobriu que era muito melhor ser corpo e carne.

Anne

sexta-feira, 20 de abril de 2012

E ela...

Ela escrevia... Talvez escrever fizesse dela uma princesa em contos de fada distantes e bonitos. Com príncipes, reis e rainhas bondosos, uma corte fiel, amigos, fadas, unicórnios, arco-ires. Talvez, na profundidade se seus pensamentos, pudesse tornar um mundo melhor, o seu mundo particular. Talvez, ela fosse para tão longe que não quisesse mais voltar. E não queria, nunca quis. Nada a prendia ao mundo que vivia.

E, escrevendo, ela esqueceu de tudo o mais que existia. Não havia mais maldade, nem desigualdade. Não havia mais o castelo feio que deixara para trás. Mas também não havia o contato. A troca de carinhos. A asa farfalhante de uma borboleta. O som daquela risada triste difícil de ser ouvida. Os beijos que outrora trocara. As caricias. O amor. Havia apenas sua imaginação. Nunca poderia mais ouvir o coração descompassado. Havia apenas a batida de seu próprio coração solitário.

Mas era muito fácil viver ali... Naquele mundo... O príncipe encantado (o da vida real) tentou diversas vezes resgata-la. Mas ela preferiu a segurança da estabilidade que havia criado para si. Muito melhor do que a incerteza de um coração errante!

(prologo de um livro ainda não terminado)