sábado, 2 de outubro de 2010

A dama e o Hippie

Todo dia, Andy acordava no mesmo horário, lavava o rosto e secava na toalha branca a direita do espelho. Escovava os 32 dentes por 15 minutos e enxaguava por mais 5. Ia à cozinha, tirava o pó de café do armário e colocava duas colheres para três xícaras. Enquanto esperava o café ficar pronto, ia até seu guarda-roupa e separava a roupa do dia. Depois voltava ao banheiro, desta vez para tomar um banho curto, porém revigorante.
Não demorava muito pra se secar e ia tomar seu café da manhã. O pão, comprado no dia anterior, era cortado em fatias e recebia por cima, uma grossa camada de geléia de morango. O café doce e forte, esperava para ser tomado, sempre depois da terceira fatia de pão. Comia uma fruta em seguida.
Voltava para o banheiro pela ultima vez, escovava novamente os 32 dentes por 15 minutos, enxaguava. Passava uma maquiagem leve e ia para o trabalho.
Andy morava por conta própria desde os 20, e desde esse tempo criara hábitos simétricos para si mesma. Raramente saia, quando em quando ia para alguma confraternização do trabalho ou algum churrasco da turma da faculdade.
Não bebia, não fumava, não gostava de se arriscar. Não dirigia por medo de atropelar alguma velhinha no "transito caótico" da cidadezinha do interior.
Certa feita conheceu Marcos, um hippie maluco que gostava de gatos e morava com os pais. Ele bebia, fumava, era vegam por amor aos animais. Ativista de uma ONG que protegia a Arara-Azul e de outra contra o desmatamento da Amazônia. Não trabalhava de carteira assinada, mas fazia pequenos bicos pela cidade. Cortava a unha do pé de mês em mês, e raramente lembrava-se que tinha dentes.
Apaixonaram-se, e, como ninguém tinha nada contra, casaram-se.
Foram felizes, mas acabaram se separando. A unha do dedão incomodava bastante de noite.


Anne